Treva era só o que existia; estava escuro, numa proporção infinita, silêncio absoluto onde não havia o espaço e nem o
tempo. Assim era o universo, sem origem, sem passado nem história. Mesmo a melhor das imaginações de hoje não conseguiria
definir aquilo, pois a nada poderia se comparar. Tudo era apenas um interminável Universo, inteiro, imarcescível, escuro e
frio.
Sem origem ou tempo definido, aquela imensa escuridão rompeu o seu silêncio. Um indício estranho de que alguma coisa
se iniciara; um começo, mesmo sendo apenas um som, um ruído. Como diriam bilhões de anos após, no início era apenas o verbo.
Que som seria aquele, se nada existia apenas um Universo escuro? Se nada existia, o que poderia produzir som? E, se era
inteiro, como poderia produzir vibrações?
O que parecia inexistente, na realidade era maciço, por isso não se via o espaço. E, com toda a sua infinitude, também
não poderia haver o tempo.
Mas assim como uma fruta verde e inteiriça que começa a amadurecer, lá estava o Universo também amolecendo, indicando
o primeiro sinal de tempo em sua existência, amadurecendo como um legume, fendendo-se, partindo-se, fragmentando-se, estilhaçando-se
entre o espaço inexistente, assim como imaginamos a inexistência da matéria que compõe a noite. E aconteceu o que sempre acontece
no frio período entre o crepúsculo da tarde e o crepúsculo da manhã: o Universo orvalhou.
E no aparente espaço que existe até hoje, gotas de água apareceram, de todos os tamanhos. Imensas e pequenas, arredondadas,
formando um turbilhão em todo o Universo, causando um terrível som que mais parecia uma explosão vinda de todo o infinito.
Estava formada a primeira matéria diferenciada do universo, que inteiro, assim como uma pedra de gelo, se derrete formando
duas matérias, uma sólida, preexistente, e outra líquida, com diversas formas. Podíamos agora fazer a distinção entre duas
coisas na imensidão das trevas. Era como se do nada algo surgisse, o universo tentando mostrar uma lei sua, que para
cada ação ou estado, tinha capacidade de produzir outra ação ou estado contrário, pois se nada existia, ele através do orvalho
produzia algo palpável, ou se existia, acabou dividindo o inteiro em blocos e espaços.
É muito importante guardar na memória esta parte da criação do Universo, ou do primeiro movimento existente na sua então
inexistente história, duas coisas: uma, que no princípio só havia o verbo, ou som, outra, que o Universo reage a cada ação
ou estado de si mesmo, com uma ação ou estado igual e contrário.
Podemos assim, compreender mais adiante mais alguns fenômenos presentes no Universo. Esta revelação é um dos objetivos
deste site.
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